quarta-feira, 5 de maio de 2010

O cidadão Kane e a proibição da Maconha

,
No último domingo aconteceu aqui no Recife e em mais de 300 cidades mundo afora a Marcha da Maconha, movimento mais conhecido no exterior como internacional Global Marijuana March. A frente do computador danei-me a pesquisar no Google (atual pai dos burros) sobre a origem da proibição. Entre os argumentos encontrados me agradou uma matéria da Revista Super Interessante de agosto de 2002, onde consegui pescar os fatos mais relevantes.

A começar pela origem do nome Marijuana que exemplifica toda jogada por trás da proibição da erva consumida há mais de 2000 mil anos pelo mundo afora. Eu procurando um motivo para a criminalização encontrei na realidade um culpado: Henry Anslinger. Um funcionário Público americano, responsável pela repressão ao tráfico de rum oriundo das Bahamas, na década de 1920, durante a Lei Seca daquele país.

Com a repressão ao consumo do álcool, outras formas de “fuga da realidade” se popularizaram. Entre elas a milenar erva. Com a popularização da danada no sul do EUA – durante a quebra da bolsa de 1929 - protestantes puritanos começaram a espalhar através de boatos que a maconha daria uma força sobre-humana aos mexicanos. Isso seria uma vantagem injusta na busca pelos escassos empregos naquela época. Mexendo no bolso da família americana ficou fácil acreditar em tal ladainha.

Mas o que tem a ver esse mero funcionário público americano com a origem da palavra Marijuana? Segundo a reportagem foi o tio da esposa de Aslinger quem criou o termo Marijuana. Andrew Mellon era o nome dele. Dono da gigante petrolífera Gulf Oil e um dos principais investidores da igualmente gigante Du Pont.

Nos anos 20, a Du Pont estava desenvolvendo vários produtos a partir do petróleo que disputavam o mercado com os produtores de cânhamo. Do cânhamo obtem-se materiais combustíveis (parecido com o processo de extração da mamona brasileira) e tecidos ou papeis de grande resistência e durabilidade.Foi muito usado no tempo das grandes navegações.

Sim, mas Andrew Mellon e Henry Aslinger tinham um grande aliado em comum: William Randolph Hearst. Esse cidadão era dono de uma imensa rede de jornais e uma das pessoas mais influentes dos Estados Unidos naquele tempo. Hearst também era dono de terras e as usava para plantar eucaliptos e outras árvores para produzir papel. Ele também queria o cânhamo fora da parada. Foi nele que Orson Welles se inspirou para criar “O cidadão Kane”.

Juntos eles popularizaram a palavra Marijuana, pois de acordo com a reportagem queriam algo que soasse bem hispânico. Permitindo assim a associação direta entre a droga e os mexicanos.

Foi o cidadão Kane, ou melhor , o cidadão Hearst quem iniciou, nos anos 30, uma intensa campanha contra a maconha. Seus jornais passaram a publicar seguidas matérias sobre a droga. Ás vezes afirmando que o consumo da erva fazia os mexicanos estuprarem mulheres brancas. Em outras noticiando que 60% dos crimes eram cometidos sob efeito da mesma.

O sucesso foi tamanho que através de manobras políticas dentro do congresso americano cassou-se o direito da espécie Cannabis Sativa de existir. Seu consumo ou plantio foi terminantemente proibido. Mas eles conseguiram muito mais do que criminalizar a planta. "A proibição das drogas serve aos governos porque é uma forma de controle social das minorias", diz o cientista político Thiago Rodrigues, pesquisador do Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre Psicoativos. Funciona assim: "A maconha é coisa de mexicano, mexicanos são uma classe incômoda. Como não é possível proibir alguém de ser mexicano, proíbe-se algo que seja típico dessa etnia", diz Thiago.

A partir de então Henry Aslinger foi nomeado o chefe do Departamento Nacional de Repressão as Drogas e passou a freqüentar as reuniões da Liga das Nações, antecessora da ONU, propondo tratados cada vez mais duros para reprimir o tráfico internacional. A proibição foi virando uma forma de controle internacional por parte dos Estados Unidos e isso abriu espaço para intervenções militares e econômicas em outros países.

Hoje, após centenas de pesquisas feitas sobre o tema, é comprovado que a Maconha faz menos mal que o álcool, é tão agressiva a saúde quanto o cigarro comum e em casos do vício em drogas mais pesadas pode ser um paliativo agradável. A maconha é hoje uma arma poderosa na recuperação dos viciados em crack.

Mas o elaborado "controle social" conseguiu através do combate ao tráfico, porte ou consumo pegar forte e mesmo depois de tanta celeuma sobre o caso ainda é dificil vislumbrar a possibilidade de ver alguém fumando um como se toma uma cerveja. A lei atirou na maconha e acertou o livre arbítrio.

Que o diga o artista plástico Edielson Gomes da Silva, de 24 anos, que durante a realização da Marcha da Maconha de 2010 no Recife foi flagrado com uma quantidade de Cannabis Sativa suficiente para fazer um baseado. Ele foi colocado no camburão e conduzido ao Denarc pela Polícia Civil. Apesar de solto em seguida foi fichado e deve ser julgado por um crime de menor gravidade.

11 comentários:

  1. pode crer!
    O filme Grass trata disso também....e fala das campanhas propagandistas contra a maconha...é hilario e atormentante!
    aew meu vieo
    Galego

    ResponderExcluir
  2. Bote fé.. Eu vi o filme e a versão dele é bem essa mesmo. Engraçado como em política se usa um caisa pra se chegar em outra. Interessante descobrir que Cidadão Kane veio da mesma fonte. Dessa eu não sabia.

    Alex

    ResponderExcluir
  3. "é tão agressiva a saúde quanto o cigarro comum." pode até ser, mas ninguem fuma um maço de maconha por dia.

    ResponderExcluir
  4. É verdade cara... Bem observado, ninguém fuma 20 baseados num dia. Sendo dessa forma o cigarro é mais agressivo que a maconha.

    ResponderExcluir
  5. O lance é, qual a garantia da erva continuar sendo natural se legalizada?! A industria entraria na brincadeira, misturaria outros toxicos e a malboro ta ai pra provar isso...

    ResponderExcluir
  6. Concordo que a erva seria integrada aos maquiavélicos planos capitalistas. Mas pelo menos, se legalizada, poderia-se plantar sem problemas. A possibilidade de cultivar maconha orgânica seria real e o trafico mudaria de produto.

    ResponderExcluir
  7. meu caro artur, bom texto!
    o preconceito, o controle social e a disputa de mercado são certamente grandes problemáticas que rondam o tema. mas é bom atentar que a questão do início da proibição das drogas, especialmente da maconha, não se restringe aos esforços de três influentes norte-americanos.
    a cisão entre a razão e a loucura pela necessidade de distingui-los é um dos pilares da modernidade, e, por conseguinte, da condenação de práticas consideradas irracionais. o advento da medicina enquanto ciência moderna contribuio para isso, na medida em que ela passa a ditar a "necessidade" de se ter práticas saudáveis, e do homem estar sempre apto ao trabalho através de um corpo saudável e uma mente dócil e obdiente.
    por parte das religiões, a condenação dos prazeres obtidos também pelas drogas, frente ao "sacrifício de si" como único caminho para se alcançar o reino dos céus. além de combate às outras religiões, seculares e profanas, como as xamânicas.
    um livro muito bom sobre isso é o Drogas e Cultura: Novas Perspectivas. Recomendo muitíssimo ao senhor, vú!
    abração
    bob

    ResponderExcluir
  8. Religiões... o advento da medicina como ciência... tudo isso é muito vago. Desde o plebicito em relação ao porte de armas de fogo no nosso país que o cidadão não pode andar acompanhado de seu 38 ou qualquer outro tipo de arma. Mas o que isso tem a ver com o caso da legalização ou não da marijuana. O fato. Teve que se realizar um plebiscito para decidir se um homem poderia ser preso apenas por portar uma arma e não ser preso por utilizar sua arma de contra alguém. Ou seja um fato culminou com a decisão sobre o porte. mas também tenho certeza que o combate a qualquer tipo de arma que possa acabar com a vida de alguém (o que vai de encontro a um dos mandamentos da bíblia) deve ter sido condenado mil vezes antes de ser realmente decidido sobre portar ou não portar armas de fogo. Não estou restringindo a proibição das drogas aos esforços de tres influentes americanos e sim que senhores influenciados por religiões e a tais ciencias se utilizaram das premissas abordadas por tal para garantir que seus objetivos fossem alcançados. Nesse caso específico a proibição da maconha.

    ResponderExcluir
  9. Nunca li tanta baboseira num texto só.
    Legaliza meus ovos!
    A Maconha é somente a porta de entrada p as drogas mais pesadas.
    #13 confirma.

    ResponderExcluir