segunda-feira, 26 de abril de 2010

Homicídio Culposo


Voltei de férias no mesmo dia em que minha filha completava 1 ano. Cheguei cedo com o intuíto de sair mais cedo. Passar mais tempo com ela. Curtir essa data que nem sei se terei o prazer de repetir com outro rebento. Nem sei se um dia vou ter outra criança. Mas de qualquer forma cheguei mais cedo. Na sala divagando possibilidades entra um cidadão pra me contar um causo punk. Ele em seu segundo casamento estava na expectativa da chegada de mais uma criança. A terceira dele, a primeira de sua nova esposa. Pré-natal organizado, plano de saúde em dia e uma vontade doida de ter aquele menino em suas mãos. Artur seria o nome dele. Seria, pois a criança nasceu morta. Não por dificuldades no nascimento, não por irresponsabilidade dos pais e sim por negligência médica. A história foi contada a mim de forma rápida e dolorosa. Assim meio como se arranca um band-aid. Na última semana de março deste ano o casal em questão estava no Hospital Vasco de Lucena (o mesmo de sempre do grupo Santa Clara que por questões jurídicas mudou de nome mais uma vez) esperando um exame de ultrassom para verificação da saúde do neném que já estava por nascer. Mas pra variar o Santa Clara negou o procedimento. O casal que havia chegado ao local por volta das 15h30 esperou uma solução no mesmo lugar, pois o exame havia sido solicitado pelo médico da emergência do mesmo hospital, minutos antes e ele havia pedido urgência na realização do mesmo. Eles esperaram muito. Por volta das 20h30 e depois de ter procurado explicações entre os mais variados setores do hospital o exame foi realizado. Ela com nove meses de gestação, aguardou sentada por cinco horas até a realização do maldito exame. Ele sempre junto com ela. Mas apesar do ultrassom realizado, o horario de atendimento no hopital havia sido ultrapassado. Deu-se um jeito e a paciente foi atendida no mesmo dia e o exame ralizado foi verificado por um médico convocado às pressas. A consulta foi rápida e a data do nascimento da criança foi agendada para dentro de uma semana. Os pais leigos concordaram de imediato. Mas o tempo de gestação ja teria chegado ao limite e um dia antes da data agendada pelo médico chamado nas carreiras a mãe da criança passou mal e teve que ser socorrida para o mesmo hopital. Lá durante exames de rontina não se escutou o coração do bebê. O médico entrou em pânico e solicitou uma sala de parto para uma cirurgia de emergência. As enfermeiras solicitaram ao pai as roupinhas da criança para colocar no berçario do hopital e logo em seguida devolveram as roupinhas. O pai desconficou e logo constatou o que já esperava após testemunhar o desespero do médico. A criança estava morta. Por falta de atenção dos médicos a data do nascimento foi marcada além do que a criança aguentaria e ela faleceu. O pai do menino contando a história pra mim e eu chorando mais que ele. Porra, era o dia do aniversário da minha filha e o nome da criança morta era Artur. Meu nome. Fiz de tudo pra veicular o fato em algum jornal. Liguei pra todas as redações de impressos do Recife. Tentando convecer pelo telefone um jornalista de um impresso que nem vou citar o nome fui chamado de leviano. Pois, segundo ele, seria muita irresponsabilidade colocar uma matéria daquelas sem um parecer do Cremepe ou Ministério Público. Mas havia um parecer técnico de uma profissional da área comprovando o erro. Leviano. Puta que pariu. Leviana é a forma como os planos de saúde, em especial o Grupo Santa Clara, tratam as pessoas. Mortes como essas são cotidianas. Lmbro que no ano passado tentei sugerir uma pauta sobre a morte de uma criança de 4 anos que teve seu internamento em uma UTI negado pelo mesmo plano e ouvi que para virar notícia teria que encontrar mais casos como o relatado. As desculpas são sempre as mais variadas. Os pais de Artur foram embora. Eu ainda tentei colocar as notícias sobre o menino em outro meio. Saiu em uma rádio rapidinho e não repercutiu. Tinha esquecido a quantidade de anúncios do Grupo Santa Clara em todos os meios de comunicação da cidade. É muita grana meu amigo. Muito dinheiro investido. Mas era aniversário da minha filha. Eu não poderia perder aquele almoço de familia por nada. Fui embora. Fudido. Tenho certeza que no futuro vou lembrar mais daquele pai desesperado do que de quem estava almoçando na minha mesa naquele dia. No carro, mesmo antes de almoçar, fui digerindo o sentido da palavra leviano.

terça-feira, 20 de abril de 2010

Democracia ou Demagogia?


Há muito que se vem discutindo sobre o que deve ser notícia e o que não pode ser notícia. Em 1967 - durante o regime militar - a Lei de Imprensa previa, entre outros pontos a censura aos meios de comunicação. Mas a ditadura caiu e a liberdade de imprensa tornou-se preponderante à liberdade de expressão, à democracia e ao povo no poder. Ledo engano. Hoje a censura é capital e a liberdade de imprensa baseada no investimento em propaganda, como afirma a jornalista Bia Falcão, da Agência Carta Maior, em artigo publicado pelo Observatório da Imprensa, "Ao contrário do que afirma a grande imprensa, as ameaças à liberdade de expressão no país não vêm das iniciativas de regulação da mídia. No Brasil, é o sistema de concessões e renovação de outorgas de rádio e TV um dos principais mecanismos de concentração da propriedade da mídia e ausência da pluralidade de vozes nos meios de comunicação. Por outro lado, as verbas governamentais para publicidade se transformaram numa nova maneira de influênciar a cobertura dos veículos impressos". Não são poucos os profissionais de comunicação que não tenham como lembrança fatos ou pautas deixadas de lado apenas para não macular a imagem de um anunciante forte. De acordo com levantamento do Grupo de Mídia São Paulo, que faz uma avaliação anual do tamanho do mercado anunciante no Brasil, em 2008 foram gastos R$ 23 bilhões em publicidade no país. Somados, todos os governos municipais, estaduais e federal totalizaram R$ 2,7 bilhões. Somente o governo de São Paulo saltou de R$ 59 milhões de publicidade oficial em 2007 para R$ 158 milhões em 2008. Os Ministérios da Educação, do Turismo e da Saúde, juntos, gastaram R$ 628 milhões no mesmo ano. Todos estes números apenas ratificam o que os mais cabreiros não conseguem explicar. Como argumenta o jornalista Eugênio Bucci, professor da Universidade de São Paulo e articulista do jornal O Estado de S.Paulo, "por meio da verba governamental, interesses dos governos adquirem uma entrada privilegiada nas redações dos jornais, influenciando na pauta e minando a liberdade de imprensa. Na prática, os anúncios são a continuação da propaganda eleitoral fora do período de campanha. Não é à toa que são feitas pelas mesmas equipes, com a mesma linguagem". Assim continuamos reféns de um mercado invisível sem saber como reagir aos interpérios de um Governo que entrega a saúde aos cuidados de fundações escusas, que através dos salários mais baixos do Brail enfraquece a justiça de acesso comum (Denfesoria Pública) e sem rodeios manipula números em benefício de uma reputação herdada do vovô.


"Muda que o medo é um modo de fazer censura"
(Gabriel Pensador)